segunda-feira, 3 de agosto de 2009

Caio Prado Jr. já dizia: perspectivas para o Brasil em 1977

Há 32 anos atrás, Caio Prado Jr. analisava o sentido da história recente do Brasil e seus possíveis rumos:

"Numa das direções é o simples prolongamento do que aí está, e que embora com algumas formas aparentemente novas e originais, mas respeitando no essencial os fundamentos e as linhas mestras de um longínquo passado, se estende até hoje. Isto é, um país que no contexto do mundo moderno - é para isso que sobretudo devemos atentar - não representa mais do que um setor periférico e dependente do sistema econômico internacional sob cuja égide se instalou e originalmente se organizou como colônia a serviço dos centros dominantes do sistema. E em função dessa situação se estruturou econômica e socialmente. É certo que deixamos de ser, em nossos dias, o engenho e a 'casa grande e senzala' do passado, para nos tornarmos a empresa, a usina, o palacete e o arranha-céu; mas também o cortiço, a favela, o mocambo, o pau-a-pique, mal disfarçados, aqui e acolá, por aquele moderno em que minorias dominantes e seus auxiliares mais graduados se esforçam com maior ou menos sucesso por acompanhar aproximadamente, com o teor de suas atividades e trem de vida, a civilização de nossos dias. Essencialmente, contudo, com as adaptações necessárias determinadas pelas contingências do nosso tempo, somos o mesmo do passado. Senão quantitativamente, na qualidade. Na 'substância', diria a metafísica aristotélica. Embora em mais complexa forma, o sistema colonial brasileiro se perpetuou e continua muito semelhante. Isto é, na base, uma economia fundada da produção de matérias-primas e gêneros alimentares demandados nos mercados internacionais. (...) E como reflexo de uma tal infra-estrutura econômica, o que temos é uma ordem social que se caracteriza pelo extremo afastamento material e cultural, entre si, das categorias sociais, com a grande massa da população reduzida a ínfimos níveis. (...)
A democracia é pela prática que se adquire, e não por geração espontânea e sem antecedentes, ou inspiração não se sabe do que.
E é assim que se abrirão algumas das mais importantes perspectivas - hoje praticamente cerradas - para a condução da política brasileira num sentido verdadeiramente renovador e capaz de arrancar o país do ponto morto que o ameaça e que o atola no passado. Isso porque, como já foi lembrado e me parece incontestável, é nas aspirações e reivindicações das classes e setores da população mais diretamente atingidos pelas insuficiências da presente estrutura e funcionamento da economia brasileira, que se encontrarão as raízes de tais insuficiências. (...)" Trechos de PRADO JR., Caio. "Perspectiva em 1977" In A Revolução Brasileira. São Paulo: Brasiliense, 1977, p.239-240, 250.

Nenhum comentário:

Postar um comentário