domingo, 9 de agosto de 2009

FUI ELEITO PARA DEFENDER, MANTER E CONTINUAR APERFEIÇOANDO O SOCIALISMO, NÃO PARA DESTRUI-LO - Raul Castro, 1 de agosto de 2009.

Apesar das dificuldades econômicas e financeiras, honramos nosso compromisso moral em matéria de cooperação e solidariedade internacional.

As duas nações centro-americanas que restavam por manter relações diplomáticas conosco estabeleceram-nas nestes últimos meses.

Caberia perguntar-se que país está isolado nesta região, não parece ser Cuba.

Observamos com atenção a atitude do novo governo dos Estados Unidos a nossa nação. Se nos atemos estritamente aos fatos, o essencial é que o bloqueio econômico, comercial e financeiro permanece intato e em completa aplicação, como demonstra a perseguição de nossas transações com terceiros países e a crescente imposição de multas a companhias norte-americanas e subsidiárias estrangeiras. Da mesma maneira persiste a inclusão injustificada de Cuba na lista de Estados promotores do terrorismo internacional que anualmente emite o Departamento de Estado.

As positivas, embora mínimas medidas anunciadas no passado 13 de abril, na véspera da Cúpula das Américas perante o clamor antibloqueio de todo o continente, que anulariam as restrições às viagens dos cubanos residentes nesse país e às remessas a seus familiares e que permitiriam também algumas operações em matéria de telecomunicações, até este momento não foram implementadas. É importante que isto se conheça, porque existe bastante confusão e manipulação na imprensa internacional a respeito disso.

Certo é que diminuiu a agressividade e a retórica anticubana por parte da administração norte-americana e, após seis anos de suspensão por decisão de Bush, foram retomadas no passado 14 de julho as conversações entre ambos os governos sobre o tema migratório, as quais se desenvolveram de forma séria e construtiva. Cuba reiterou que continuará cumprindo escrupulosamente, como até agora, os acordos migratórios e denunciou o estímulo que para as saídas ilegais e o contrabando de pessoas supõem a Lei de Ajuste Cubano e a política de pés secos-pés molhados que aplica o governo dos Estados Unidos.

Semanas atrás, a secretária de Estado, Hillary Clinton, declarou que: "… estamos abrindo-nos ao diálogo com Cuba, mas estamos muito claros em que queremos ver mudanças fundamentais no regime cubano", concluiu.

Vejo-me na obrigação, com todo respeito, de responder à senhora Clinton e também aos que na União Europeia nos reclamam gestos unilaterais na direção de desmontar nosso regime político e social.

Eu não fui eleito presidente para restaurar o capitalismo em Cuba nem para entregar a Revolução. Fui eleito para defender, manter e continuar aperfeiçoando o socialismo, não para destrui-lo (Aplausos prolongados).

É algo que deve ficar muito claro porque representa a firme decisão do povo cubano ao aprovar em fevereiro de 1976 em referendo, com o voto direto e secreto de 97,7% dos eleitores, a Constituição da República, a qual em seu primeiro artigo expressa: "Cuba é um Estado Socialista de trabalhadores, independente e soberano, organizado com todos e para bem de todos, como república unitária e democrática, para o desfrute da liberdade política, da justiça social, o bem-estar individual e coletivo e a solidariedade humana".

E mais recente no ano 2002, concretamente entre os dias 15 e 18 de junho, 8.198.237 cidadãos, a quase totalidade da população em idade eleitoral, assinaram a solicitação a esta Assembleia de promover a reforma constitucional que ratificou em todas suas partes a Constituição da República e declarou irrevocável o caráter socialista e o sistema político e social contido em nossa lei fundamental, o que foi aprovado de modo unânime pelos deputados da Assembleia Nacional em sessão extraordinária realizada nos dias 24, 25 e 26 de junho desse próprio ano.

Aproveito a ocasião para reiterar a disposição de Cuba para ter com os Estados Unidos um diálogo respeitoso, entre iguais, sem sombra para nossa independência, soberania e autodeterminação. Estamos prontos para falar de tudo, repito, de tudo, mas de aqui, de Cuba e de lá, dos Estados Unidos, não a negociar nosso sistema político e social. Não pedimos aos Estados Unidos que o faça. Devemos respeitar mutuamente nossas diferenças.

Não reconhecemos ao governo desse país, nenhum outro nem a conjunto de Estados algum, jurisdição sobre nossos assuntos soberanos.

Em Cuba desde o triunfo da Revolução não houve uma execução extrajudiciária, nem desaparecidos, nem torturados, retifico, em Cuba sim existiu tortura, mas na Base Naval de Guantánamo, imposta a nossa Pátria háe mais de cem anos, pela infame Emenda Platt aprovada no Congresso dos Estados Unidos como condição para o fim da ocupação militar ianque.

Aí sim houve tortura, e isso faz parte do território cubano, embora nós não fizemos. Por isso dizemos, com todo respeito, à senhora Hillary Clinton, secretária de Estado desse país, que se quiser discutir de tudo, vamos discutir de tudo, de aqui, mas de lá também.

Anunciou-se o fechamento da prisão norte-americana de Guantánamo, é uma justa demanda da opinião pública mundial, mas o assunto não deve terminar aí. Não renunciamos nem renunciaremos jamais à devolução incondicional deste pedaço do território nacional.

Como mesmo reiteramos a disposição de solucionar o diferendo com os Estados Unidos, esclareço que encaramos o assunto com absoluta serenidade e sem pressa alguma. Levamos 50 anos caminhando no fio duma navalha, nisso estamos muito bem treinados, e somos capazes de resistir outros 50 anos de agressões e bloqueio (Aplausos).

Trecho do discurso do presidente Raul Castro à Assembléia Nacional do Poder Popular. In Gramna, http://www.granma.cu/portugues/2009/agosto/mar4/32discurso-p.html

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